Thursday, July 26, 2012

Treinando pra ser chuva

(Treinando pra ser chuva - Constantina)

Devíamos dançar, por que não? Nas estradas, nas esquinas, nas estrelas, nas calçadas, na areia - de frente pro mar. Vapor que rodopia nas nuvens - sem par. Treinando pra ser chuva. Sem mais palavras, só esse encanto.

Tuesday, July 24, 2012

Céu para colorir


- Tia, por que o céu é azul?
- E o céu é azul? Quem disse?
- É azul, sim, olha lá!
- Hmmm... É verdade. O céu está azul.
- Como assim "está"?
- Ué, ele tá azul clarinho agora. Mas às vezes fica cinza. N'outras, azul bem escuro. Ou preto! No fim de tarde, fica alaranjado. No comecinho do dia também. Às vezes, no lusco-fusco, dá pra ver uns tons de lilás e de verde. Mas isso só se você prestar muita atenção. O céu gosta de mudar de cor. Tem dias que se enfeita com nuvens. Em outros, fica mais "clean". À noite, usa estrelas. Mas ó, nenhum céu é igual ao outro. Pelo menos penso que não.
- Eu achava que era azul porque Deus era menino.
- Se Deus existe, ele é criança com canetinha e lápis de cor.
- Hmm... (pausa) Tia! Quero brincar como Deus!

Em meia hora, criou um mundo. Seu céu - amarelo com bolinhas vermelhas.

Wednesday, July 18, 2012

A batida do jazz

Meu coração tem a batida do jazz: be.bop.

Sob nossas asas, sobre nossas raízes


I
É um momento crucial, o da escolha: raízes ou asas? Todo homem precisa optar, em algum momento da vida: fazer da sua casa, o seu mundo; ou do mundo, a sua casa. Não tem a ver com dinheiro que possui, com as viagens que fez. É uma questão de desprendimento.

II - Ela
As pessoas-raízes gostam de conforto; prezam os laços. Cultivam os amigos da infância com um preciosismo tremendo. Se apaixonam várias vezes pela mesma pessoa. Descobrem uma novidade na jabuticabeira, que deu fruto. E saem por aí oferecendo jabuticabas a Deus e o mundo.

Pessoas-raízes são calmas. Gostam de ter controle sobre o que as cerca. Sabem que poderiam ter o mundo inteiro, mas não querem estar em qualquer outro lugar. Aquilo que é seu lhes basta. Quando viajam, são turistas. Gostam de fotografias e souvenirs. É um povo simples, que faz da leveza um dom. Pessoas-raízes parecem ter vocação pra felicidade. Vêem embaladas num sambinha bom, num ritmo de bossa. Cada um dos seus sorrisos parece uma declaração de amor. É impossível não admirar a solidez de seus passos. Amar esse tipo de gente é como deixar que ele(a) cresça em você como planta. Mesmo quando não se espera nada da semente. São delas nossa segurança, nossos risos certos, nosso coração aberto, nossa vontade de ficar. Pessoas-raízes são grandes pra dentro.

III - Ele
Do outro lado de existir, ter asas é para fortes. Pessoas-asas são impetuosas e destemidas. Não sentem vertigem. Ou sentem, mas se jogam mesmo assim. É uma gente audaciosa, que vive faminta e sedenta. Não pertencem ao chão. É um povo do céu, mas não gostam só de azul. Querem todas as cores, sem distinção ou preconceito. Intensos. São capazes de lhe oferecer um arco-íris. Voam solo, mesmo quando acompanhados. Sabem que ninguém se completa. É preciso somar. São plenos e vorazes.

Conhecem a natureza da liberdade. Seu voo não cabe numa gaiola. Se ficarem, não é porque precisam. Querem, simplesmente. Há outras possibilidades. Quando encontram alguém que compartilhe sua liberdade, vem a parceria. Não têm nostalgia. Sempre é possível reinventar o tempo. Seu amor não é sentimento. É ação que pode ser projetada em todas as direções. São deles nosso senso de aventura, nossas descobertas mais loucas, nossa nobreza de espírito. Pessoas-asas não têm amarras.

IV - Aqueles dois
OU: Você decide se é um encontro ou uma história de amor
OU: O dia em que um pássaro se apaixonou por uma flor
OU: Divagações: importa o tempo do pouso?
Foi numa segunda-feira, um dia qualquer, muito pouco romântico. Ela lia sentada num banquinho de praça. Ele passava apressado, um café latte na mão. Quando a viu, desacelerou o passo. Trocaram sorrisos. Ele sentou ao lado dela, displicente [Bossa nova e rock'n'roll]. E resolveu ficar.

Thursday, July 12, 2012

[O que é, o que é?] Não tem rima nem refrão


Guarda as palavras bonitas
que acha por aí:
numa rua movimentada,
num concerto de rock
ou num café.

Já pensou que nenhuma delas
sai do mesmo jeito?

Quantas bocas já falaram de beijo,
de céu, de chuva, de guarda-sol?
- esta última, uma de suas preferidas.

Quais suas entonações?
Quais seus contextos?
Foram sussurradas ou gritadas?
Vieram acompanhadas de algum tipo de fé?
Quem sabe de medo, de raiva, de agonia,
de tristeza, de felicidade, de solidão,
de esperança, de preguiça, de [insira aqui uma emoção].

Quais suas intenções?
Quais suas entrelinhas?
Suas trilhas sonoras,
seus ritmos,
suas respirações!

Palavra entrecortada. 
Palavra dita pausadamente.
Palavra apressada.
Palavra sibilada.
Palavra sem fôlego.
Palavra interrompida.

Escolha e você terá uma cena.
[Única?]

Para as pessoas,
para as palavras,
para as situações.
A vida é como música
sem refrão.

Tuesday, July 10, 2012

Na tua pele


Na tua pele, som de mar. Das cores, ficou o amarelo - a música gasta dos nossos dias. Mas não fala mais de amor, menino, que meus pés andam sem chão. Me fiz vontade de céu. Um azul sem teu riso. Fica uma alegria antiga. Ou uma lembrança perdida numa tarde qualquer, passeando pela cidade. Fica o passado, mas que ousemos viver no presente. Que este - o agora - seja um lugar bonito. Com as marcas que escolhemos, sim. Nossas próprias cicatrizes - coloridas ou não, à mostra ou nem sempre. Para cada cor, uma dor. Que nos reste, enfim, a delicadeza ao olhar para trás, a generosidade para com nossas histórias.

Para certas coisas não há borracha. Escolhemos mantê-las nos pés ou nos braços. Às vezes menos, n'outras mais, mas é sempre uma ousadia. Perdoa, então, se minh'alma chucra não sabe ver beleza. Não quero ser aquela que desdenha, ainda que seja. Aquela que exige uma explicação, porque não se faz nada assim sem propósito. E isso me assusta. Talvez só mesmo os fortes entendam. Não temos a eternidade, nunca tivemos. Onde nos enganaram? Como nos enganamos tanto? Todo romance nasce pra ser o último. E só acontece enquanto estamos distraídos. Distrai-te. Vencemos como em Leminski, embora não. "A cor mais alegre. A cor mais triste [...que vestes]. O dia em que eu te vi. O dia em que me viste".

De onde veio essa mania de amar o difícil? Quando o desejo será daquilo que temos nas mãos? Daquilo que podemos ter? No meu céu, imprimi um arco-íris. Quem sabe alguém goste. Quem sabe alguém surja. E mesmo não gostando, mesmo não surgindo - o futuro me sorri, por mais incerto. O futuro que não comporta desenho. O futuro que precisamos escrever sem pressa e sem saudade. Então guarda a cor, guarda a pele, guarda a música, tudo bem. Mas não esquece: estamos além. Pega a vida com as mãos. E põe-te a colorir.

Monday, July 09, 2012

Microconto

Se conheceram no asilo. Foi amor.

Thursday, July 05, 2012

Era pra ser uma declaração


Ou: o texto com o qual não ganhei uma viagem a Paris numa promo de dia dos namorados

Você é esse que surge na minha frente no meio da quarta-feira. E só. Não quero saber seu nome, seu endereço, seus pingos nos is. Não preciso do seu CPF, das suas credenciais, do seu histórico. Você amou antes e vai amar depois do tempo-espaço dessa tarde. Você não é nem nunca será meu. Falo sem vergonha, e isso não é ruim - acredite! Não quer dizer que não possamos brincar de posse. Você me joga na cama e finge que me toma à força. Eu me equilibro nos saltos e invento que marco sua vida com batom.

E tanto mais, mas não enganamos ninguém. Não somos especiais, não somos únicos. Dizer o contrário é puro charme. Roubaram nossos anos de educação romântica. E agora? Existe a possibilidade de um futuro sem você. Tenho certeza de que ele seria lindo. Não é o fim do mundo se a gente não estiver junto no fim desse texto ou do próximo mês. Por mais que as músicas teimem em dizer o contrário.

Se as geleiras derretem, se as usinas nucleares explodem, se tsunamis ou terremotos destroem cidades e milhares de vidas... O que esperar de um elo tão frágil quanto duas pessoas com mais problemas que soluções? Não me prometa nada. Não me ame pra sempre. O que eu mais gosto é a sua dimensão livre. O fato de ser tão avesso à minha ideia de perfeição. Tão diferente de mim. Você pode ir ou ficar. Mas fica.

Você não é minha metade da laranja, não é a outra fôrma do meu molde, não é perfeito pra mim. Não sei por que, então, surgiu esse "nós". Calhou de ser você. Poderia ser qualquer outro, mas eu lhe achei no meio da vida. E você me deu vontade de dançar.