Friday, February 27, 2009

A pedra e o vento

Para Raphael C. e Luma D.


A menina fechou os olhos e sussurrou "agora".
Ela é criança de perguntas e risos fáceis.
"Onde acaba o tempo e começa o espaço?"
Agora!
Tem uma profunda paixão pelo efêmero, pelas coisas mundanas.
Respira o instante que vive. Sente o presente em cada rajada de ar.
Quer agarrá-lo. Não pode. O tempo é sempre novo.
Fechar os olhos. Olhar para dentro. Agora, agora, agora.

O olhar curioso, as mãos inquietas.
O menino carrega no jeito as marcas da inspiração.
Uma mais que o faça compreender os limites do corpo quando quer ser além de.
Aqui, não lá. Lá, não mais aqui.
Vontade de proximidade. Pernas curtas para tantas distâncias.
Correr, correr até...

Aqui e agora. Como que para capturar o momento em sua certeza mais plena.
Aqui e agora. Duas crianças e um abraço.
Em todo lugar e para sempre.
Eles são onde a infinidade do tempo toca a infinidade do espaço.
E de repente tudo faz sentido.

Tuesday, February 17, 2009

Diego C.

À beira do mar aberto. Onde a água assume uma cor castanho-esverdeada, inesperada. Que abismos aguardam além do limite branco da espuma? Buracos negros dos meus olhos submergindo nos teus. Falta ar. Uma lucidez insuportável. Não há tempo de fugir, se debater, tentar respirar. Quando se vê, aquela coisa estranha queimando no peito, inundando o corpo inteiro. Um suspiro tornaria a vida impossível. Um beijo apenas, desnortearia os sentidos.

Águas não pacíficas. Meu corpo exita na fantasia do teu - pleno e vasto; minha paz ou um sufoco a mais? Prudência e mistério - meus medos do que ainda não sei. Um impasse, um dilema. Estímulo para mergulhar ou correr; prosa poética ou poema.

Sentimentos anônimos. Nossas almas ainda não foram batizadas e o nome que carrego tem a voz dos nossos silêncios. Eu te amo, eu te quero tanto; eu te... Dizeres que morrem no ar. O oceano testemunha o pudor, a agonia de ser clichê.

Eu tenho medo de (a)mar. Eu não sei nadar. Eu só me entrego. [Água clara; batismo. Aprendi a dizer teu nome e a te dizer meu]. Encho os pulmões com o ar que guarda minhas palavras não ditas - o mar, amar. Rumo ao porto ou ao naufrágio, me deixo mergulhar.