Tuesday, September 09, 2008

Ele disse saudade

Acordar. Madrugada. A boca seca, o sexo em brasa. Suor espalhado pelos lençóis. Leve frêmito de prazer. Uma ausência. Abraçar o espaço vazio do outro lado da cama. Beijar o invisível do corpo dele. Amar às avessas. Amargura no peito. Desejo e memória.

O rosto manchado. Não tem mais olhos para chorar. Não tem mais boca para sorrir. Os dias não são mais dias. O tempo passando como se violentasse a fragilidade de seu próprio equilíbrio. A paisagem exterior não acompanha a das paredes do quarto. O cheiro dele no travesseiro, no lençol, nas roupas; disperso no ar, impregnado no corpo inteiro. Polo. Deo cologne. Perfume de saudade.

Quieta, quietinha. Um soluço. Uma sede. Sedenta. Lembrança vaga. A voz dele ao pé do ouvido. Calma, paz, sorriso repentino. Tenta segurar a voz, o momento. Não consegue. Calou, passou. As mãos são pequenas demais para prender o som e o tempo.

Rezar toda noite repetindo sempre com força e veemência - acabou. Acabou, acabou, acabou, acabou. Quer se convencer. Quer acreditar. Quer chorar, mas não pode. Quer seguir, mas não consegue. Quer se levantar. Quer voar. Quer correr. Quer beijar. Quer dançar. Quer passear de mãos dadas. Quer dormir, meu Deus, quer sonhar. A realidade é um soco no estômago e dói.

Se encolher. O corpo minúsculo na cama enorme. Um ponto perdido no universo tão grande. Tão frágil e tão forte. Patética, parada, recolhida, imóvel. Aquele medo. Aquela sede. Aquela dor.

Gosto de ranço; desgosto. Morre de fome. Entende, mas não aceita. Aceita sem saber o que. Se debate. Um suspiro. Está serena, se dá conta. Canta baixinho: timeless times, timeless times... Acabou.

Adormecer. E ter olhos que saibam sorrir. E ter uma boca que saiba chorar. Timeless times, timeless times, timeless times, wrong.