Sunday, August 30, 2009

Disritmia

Sinto nas entranhas a velocidade do giro da Terra. Abstrato, o mundo não passa de um caleidoscópio colorido, centrífuga desvairada, roda gigante. A vida zumbe, ritumba, ressoa, engana. A vida é o ritmo do meu corpo se movendo frenético; é o espasmo que ecoa entre o seu jeito e o meu; é o delírio inconfundível depois de tanto. Me debruço sobre meus excessos. Um trago, um gole, mais uma carreira.

Alí, sem restrição nenhuma, como se tivessem suspendido o tempo com notas musicais; como se fosse possível tocar o som. O corpo comprimido pela música. A terra vibra. Vibram os pés, mas não saem do lugar. Uma súbita onda torpe me ata ao chão. Não posso mover meus passos por esse labirinto atroz. Há um minotauro que devora. Sem saída. Há também uma voz que grita e tenta: dance, dance, meu amor. Não ouso.

Devagar, tateio. Como estivesse num multiverso inconcebível de cor e som. E eu, criatura negra e densa, me diluísse a cada pequeno gesto. Penetrando o caleidoscópio. Invadindo o cenário e sendo invadida por ele. Me rendo ao desatino, me perco. Sou multicor e diversa. Sou a dança que me consome o corpo sem dó. Sou tudo, sou todos. Mergulho rumo ao coração da Terra, ao centro do labirinto. Um monstro mitológico me ataca e não percebo, não vejo, não sinto. Me esvaindo e me dissolvendo, nada mais importa. Estou perdida e não há volta. Vou dançar até não poder mais, até os pés caírem, até o corpo se negar. Vou dançar até.