Quem sabe o tempo
A gente nunca se despediu de verdade, né? Foi assim: um abraço, aquele último beijo, e nunca mais. Depois, uma ou outra palavra boba. A nossa antiga falta de jeito. Aquela mesma que, nos dias frios, fazia debruçar sua vontade na minha. Até que aprendêssemos. É preciso aprender o outro, mas quase ninguém compreende. Por isso as pessoas se contentam com tão pouco quando podem ter tudo. É uma meia palavra, uma foda meia boca, rascunhos de sonhos, amor com a luz apagada.
E aí o meu jeito se espreguiçava no seu. Cama desfeita pela manhã. Um beijo. Suco de laranja feito na hora. O bom e velho café. Delicadezas me conquistam mais do que tudo na vida. A sensibilidade me tira o chão. Mesmo com essa pose de durão, você sempre soube. E, assim, fazia questão de ser gentil mesmo em meio à maior brutalidade, ao maior impulso ou ao maior desejo.
Como a gente descuida do amor, amor. Como a gente esquece. Ninguém pode viver de passado, mas eu te peço. Olhe para a mulher por trás dos meus olhos. Ela te manda um alô e um sorriso. Hoje ela não acordou te amando mais - como costumava fazer -, mas acordou com a certeza de que vai te amar pra sempre.
Talvez não com um romantismo de amantes. Talvez não com aquela velha vontade. Não saberia dizer, então, como, mas traduzir o amor nunca foi tarefa das mais fáceis. Mas eu me reconheço no seu olhar indeciso.
Acho que, à medida que a gente cresce, vai simplificando os gestos, até mesmo a escrita. Queria a felicidade sem complexidade. Sorriso sem adeus.