O bastardo
Eu sou um texto antigo na sua gaveta. Eu sou a frase mal feita, a ideia torta. Eu sou seu lado feio, sua bagunça mental, sua desorganização. Eu sou o parágrafo solto que nunca foi adiante. Eu sou o começo sem fim, a gravidez interrompida. Eu sou aquilo que você não ousa confessar. Sou sua literatura mais pobre, sua escrita mais chula. Não sou bonito, tampouco agradável. Sou a cara à tapa depois da tapa. Suas linhas mais simpáticas perdem o brilho diante de mim. Você me esconde. Morre de medo que alguém me veja. Eu sou o que há de pior em você. Sou sua falta de senso. Seu senso de humor invertido. Sua falta de graça. Seu deboche e seu escárnio. Eu sou o seu peso sobre a folha quando desaba sem sentido. Sou seu grito mais louco. Não nasci para caber em métrica nem fazer suspirar. Não espero elogios nem carinho especial.
Eu sou a angústia de um filho. Você me pariu, mas tem vergonha de mim.
2 Comments:
Nossa esse teu texto me lembrou um poema antigo, acho que vai gostar:
"O queM sou eu ?"
http://eus-sinestesia.blogspot.com.br/2010/02/eu-sou-virgem-do-sacrificio-sou-as.html
Gostei do intercâmbio e dessa frase em especial: "Sou o teu brinquedo novo que deu defeito".
Abraço
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