Sunday, May 06, 2012

O primeiro brinquedo de palavras




Tinha um gosto por palavras que nem sabia medir. Palavra bonita, palavra estranha, palavra-dicionário. Como Manoel de Barros, preferia brincar com elas que de bicicleta. Resultado: nunca aprendeu a andar numa magrela sem rodinhas, e hoje os amigos tiram sarro da menina. "Como assim? Vou te ensinar!". Não tinha jeito. Saía, mas não podia ouvir um quarteto de sopro e ficava alí, na grama às margens da Lagoa, dançando. Som para transformar em palavras.


Até um pacto. "Você me ensina a andar de bicicleta e eu te proponho um jogo".


Dia 1
Abra o dicionário numa página qualquer. Aprenda uma palavra nova.


Dia 2
Use essa palavra pelo menos 5 vezes durante o dia, em contextos diferentes.


Dia 3
Invente um significado novo para essa palavra. "Arenga" pode ser um doce feito de açúcar queimado.


Dia 4
Use a palavra no contexto errado. Dane-se quem ficar com cara de WTF.


Dia 5
Ache uma rima para a sua palavra. Escreva um poema. Pode ser haikai. Quando acabar, recite o seu poema para alguém. Pode ser o seu cachorro ou um desconhecido no meio da rua.


Dia 6
Arranje um ritmo. Cante/declame/só-mentalize o seu poema enquanto rodopia pela sala de estar. Se ajudar, coloque qualquer instrumental do Yann Tiersen pra tocar. Poemas também foram feitos para a dança. Tire-o da cadeira e, juntos, testem uns passinhos. Não vai doer.


Dia 7
Passe a palavra/rima/poesia/sugestão-de-trilha-sonora adiante. Deixe anotado no guardanapo de uma lanchonete, no assento do ônibus, na cestinha do mercado, nas mãos da atendente do McDonalds que acabou de colocar seu sorvete na casquinha.

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