tag:blogger.com,1999:blog-196496602024-03-07T18:43:12.049-08:00Impulso de DromomaniaMelina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.comBlogger102125tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-30985604476980093372014-05-29T09:23:00.002-07:002015-04-03T11:24:45.454-07:00Pr'essa moça de interior perdida na cidade grande, inventei uma chuva forte e uma rua sem alagamento. Imagem como a infância. Quando todo mundo saía de casa e corria e dançava e brincava pela rua. Pés descalços. A calha que vira chuveiro. Corrida até o fim da ladeira.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-30560446804220824832014-05-02T09:20:00.002-07:002014-05-02T09:20:07.141-07:00<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Disse
que queria ficar sozinha, e nunca mais voltou. Cabelos ondulantes de despedida,
um rastro no ar. Passos duros no assoalho. E a trilha de perfume até a porta.<br />
<!--[endif]--></span>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-9592379410277344642013-04-01T13:31:00.003-07:002013-04-01T13:32:39.800-07:00Paris não existe maisVocê me roubou Paris. A cidade não existe mais sem corridas descalças, em plena madrugada, pelos vários pavilhões da Cité U. Sem dança em cima do mapa ou do canteiro na entrada, enquanto passam dois chineses desavisados que vão ficar só até o fim do verão. Você roubou um cenário dos meus futuros possíveis romances. Como a gente faz, se não houver uma cozinha com gente do mundo inteiro? Um preparando sanduíche. O outro, ensopado de peixe com camarão.<br />
<br />
Como faz sem manhãs onde aquele casal - o francês e a espanhola - ocupam a mesa inteira com camembert e saucisson sec? Sem picnics nos dias de sol. Sem invadir jardins reais, sem cinema en plein air. Paris não existe se você não ficar na rua até tarde, tentando descobrir um jeito de voltar pra casa, porque o RER já fechou. Sem um amigo que vá passear pelo quartier chinois no XIIIème com uma camiseta de Mao Tsé-tung censurado, sem nem se ligar.<br />
<br />
Uma Paris onde você compra mil cervejas pra trocar o dinheiro de recarregar a carte Navigo. E pega o trem bebendo sem parar. Uma Paris menos Paris, da banlieue, onde um cara pode até pedir um pedaço do seu kinder bueno. Uma Paris onde você ajuda um alemão e um indiano a chegarem ao seu destino, porque eles não falam francês e acham muito complicado se orientar no metrô.<br />
<br />
Uma Paris como lua de mel. Uma com manhãs preguiçosas, tardes de (re)descoberta e festas com música brasileira ruim. Uma de fumo mal enrolado, de muitos cigarros, de vinho como se fosse água. Uma Paris que comporte um estudante de química que goste de Julio Iglesias, queira ser perito forense e more na Maison du Cambodge - porque, afinal, coerência é a gente quem inventa.<br />
<br />
Paris. Essa cidade vibrante, maravilhosa, que não existe mais.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-7866919963405343722013-02-26T23:08:00.001-08:002013-02-26T23:08:43.498-08:00Quatro versos e se foiSuspeitava que ela fosse assim<br />[mesmo]<br />bonita e breve<br />como um haikai.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-88589776246097581702013-02-26T22:56:00.003-08:002013-02-26T22:56:40.403-08:00Agradecimento"Devo muito<br />
aos que não amo.<br />
<br />
(...)<br />
Não espero por eles<br />
andando da janela à porta.<br />Paciente<br />
quase como um relógio de sol,<br />
entendo o que o amor não entende,<br />
perdoo<br />
o que o amor não perdoa."<br /><br />Wislawa SzymborskaMelina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-20075283913237971512013-02-21T10:42:00.003-08:002013-02-21T10:42:47.848-08:00Olhou para o passado com carinho e para o futuro com expectativa, mas agarrou o agora com força, com as duas mãos. Não <span class="st">à toa chamou-lhe presente.</span>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-88570326148934039372013-01-14T22:22:00.001-08:002013-01-14T22:27:17.573-08:00O fim<div style="text-align: justify;">
Um dia você vai chegar com os olhos tristes e um sorriso de adeus. Vai tocar meu rosto com doçura - mas se ela sobrará no gesto, faltará nas palavras. Jogaremos fora uma vida de planos para escrever uma nova. Uma na qual os dias não começam entre beijos. Uma sem a sua ajuda com as compras do mercado. Sem histórias na hora da janta, sem risada antes de deitar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E aí eu vou lembrar do quanto gostava de perambular por aí sozinha, conversando com gente desconhecida em bancos de praça ou sentada no metrô. Você vai voltar pras noites sem começo e sem fim. Eu vou pra cama com um cara que acabei de conhecer. Você vai administrar três garotas num fim de semana. Eu vou dançar nua pela casa. Você vai ouvir música deitado no tapete da sala. Vamos cozinhar sozinhos no meio da noite de terça, porque já passam das 22h e estamos famintos. Você vai fazer um sanduíche com requeijão e mortadela. Vou improvisar um risoto de camarão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As segundas serão os dias mais solitários. Os homens bonitos vão deixar de ser arquitetura. As mulheres mais ou menos de repente dão pro gasto. A gente vai se perder em outras bocas, outros gostos, outros corpos. Vamos aprender novos encaixes dentre o repertório que tínhamos antes um do outro. Vai ser um marco assim: antes e depois.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas enquanto você dorme ao meu lado, nada disso importa. Tiro uma mecha de cabelo da sua testa, lhe faço carinho na cabeça. Mal começamos, menino. Deita a cabeça no meu ombro e vem ser comigo o melhor que pudermos, sem noia e sem fim até onde der. Que coisa, um fim. Só inventei esse aqui pra não nos preocuparmos com ele (o nosso). "A gente pode durar um ano, três meses ou a vida inteira. Pra mim, já valeu".</div>
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-52032748037095110372012-12-11T05:17:00.000-08:002012-12-11T05:17:03.170-08:00A garota mais bonita<br />
<div style="text-align: justify;">
Ela é a garota mais bonita do mundo, mas sequer suspeita. Não são os cabelos cacheados na altura do ombro, a pele morena ou mesmo os olhos que parecem sempre sorrir. É a cor favorita de céu - aquele misto de verde, rosa, laranja e roxo do lusco-fusco. É a dança descalça, vestidinho de botão. Camiseta velha e calcinha pra dormir. Brigadeiro em plena madrugada. O jeito de fazer amor. </div>
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-86691648086225576192012-11-12T07:18:00.000-08:002012-11-12T07:18:05.349-08:00Dois<br />
<div style="text-align: justify;">
Foi de súbito. Ela tinha aquele vestidinho branco já gasto de outros carnavais. Ele sem anel de diamantes, mas com um bem querer sem medida. Convocaram os amigos mais próximos na velocidade do imprevisível. Quase como em Vegas. Sem papel nem assinatura bonita. Dançaram na cozinha de casa enquanto colocavam cerveja pra gelar. Eram só um casal de amigos. Eram namorados. Eram homem e mulher. E o que mais desse na telha. Eram duas crianças brincando de se gostar, e só.</div>
<br />
Relacionamentos sérios são pra gente chata. Que fosse divertido enquanto durasse.<br />
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-43860681252546927762012-10-29T08:04:00.002-07:002012-10-29T08:05:49.413-07:00Boca encarnada<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Não era dia de festa nem de paquera esportiva num barzinho da cidade. Não tinha casamento pra ir. Nem formatura. Era só um dia comum, desses de livro no ônibus, almoço corrido e um cigarro depois. Dia feio, até, meio cinza. Muitos telefonemas, algum estresse. Não esperava sequer encontrar o amor da vida inteira no caminho da casa ao trabalho. Dia comezinho. E assim, sem grandes porquês ou questões existenciais, passou batom vermelho antes de sair. Casa, trabalho, leitura, cigarro e mais alguma coisa que não soube dizer. Boca encarnada para encarnar o dia.</span></div>
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-49396697035792066652012-10-01T22:11:00.003-07:002012-10-01T22:11:58.691-07:00Numa Paris de amigos e pessoas interessantes, felicidade também é The Catcher in the Rye no Boulevard de Sébastopol. Solidão acompanhada de um café, e só.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-85068446333766916762012-08-29T10:55:00.002-07:002012-08-29T10:58:04.673-07:00Atraso<div style="text-align: justify;">
Paris. Contar o tempo em cigarros. Quantos até que ele chegue? Belleville, sortie 1. Porra, por que ele tinha que estar sempre atrasado? 10 minutos, nada. Os 15 minutos de politesse, nada. 20 minutos, uma mensagem de texto no celular. "Desculpa, tive um contratempo". "Foda-se", ela pensa aborrecida e sai andando. Iria jantar sozinha, fosse no quartier chinois ou na puta que pariu. Como se não bastasse um mau humor, algum engraçadinho: "Fumer tue". "Je sais. J'aime bien les choses mortelles". O sexto cigarro em meia hora, mas que merda. </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
25 minutos. Está a uma quadra de distância. Meia hora. Uma ligação. "Estou aqui. Cadê você?". Volta contrariada. Ele trazia um botão de flor e parecia desconsertado. Não pôde evitar sorrir.</div>
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-88985546280390506752012-08-24T06:57:00.000-07:002012-08-24T06:57:33.102-07:00Uma dança para dois<div style="text-align: right;">
<i>What is joy? Dance it. </i>(Pina Bausch) </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Suspendo o tempo e lhe tiro pra dançar. Lento como quem suspira. Corpos e rostos colados. Dois passinhos pra cá e dois pra lá. Não somos muito bons. Pouco importa. Ao nosso redor, as mulheres balançam os quadris e os homens sorriem como meninos. Não consigo evitar sorrir também. Lhe olho de canto de olho. Apoio a cabeça naquele ponto onde seu ombro vira pescoço. Quero guardar seu cheiro e o nosso encaixe. Erro o passo. Paramos e nos encaramos por um segundo. Beijo sua boca no salão lotado. Um cara mais velho se vira pro casal metido que invadiu o encontro de acordeões e, como se não bastasse, começou aquela sem-vergonhice.<br />
<br />
Saímos para uma cerveja. A dança continua mais sutil. Lá dentro, o mesmo balanço e os mesmos risos. Lá fora, sua mão na minha cintura. Um sussurro ao pé do ouvido: "você é linda, sabia?". Faço charme dizendo que já sabia, sim. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Descemos a rua de mãos dadas. É o fim da linha. Já são quase oito da noite, mas ainda há música. A vida é mais bonita com trilha sonora. Olho nos seus olhos. Você também sabe, não é? Lhe dou um beijo de despedida. Viro as costas. Um passo, dois passos, um giro. Danço tudo o que não ouso dizer.</div>
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-51246965098696592572012-08-23T18:42:00.002-07:002012-08-26T16:36:26.021-07:00Mais je m'en fous<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
Les mots d'amour sont toujours les mêmes ~</div>
</div>
Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-22431273210464176742012-08-15T16:08:00.000-07:002012-08-15T16:08:49.467-07:00Curtinho- Ela gosta de você.<br />
- Como você sabe?<br />
- Ela canta quando vai lhe ver.<br />
- E...?<br />
- Você entendeu o que eu falei? Ela canta quando vai lhe ver, cara! (pausa) E como é desafinada...Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-48737035407824757832012-07-26T07:00:00.000-07:002012-07-26T07:00:07.908-07:00Treinando pra ser chuva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/AfMOF6QrkyE?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
(Treinando pra ser chuva - Constantina)</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Devíamos dançar, por que não? Nas estradas, nas esquinas, nas estrelas, nas calçadas, na areia - de frente pro mar. Vapor que rodopia nas nuvens - sem par. Treinando pra ser chuva. Sem mais palavras, só esse encanto.</div>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-5023344806434652072012-07-24T07:08:00.002-07:002012-07-24T07:09:13.519-07:00Céu para colorir<br />
<div style="text-align: justify;">
- Tia, por que o céu é azul?</div>
<div style="text-align: justify;">
- E o céu é azul? Quem disse?</div>
<div style="text-align: justify;">
- É azul, sim, olha lá!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Hmmm... É verdade. O céu está azul.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Como assim "está"?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ué, ele tá azul clarinho agora. Mas às vezes fica cinza. N'outras, azul bem escuro. Ou preto! No fim de tarde, fica alaranjado. No comecinho do dia também. Às vezes, no lusco-fusco, dá pra ver uns tons de lilás e de verde. Mas isso só se você prestar muita atenção. O céu gosta de mudar de cor. Tem dias que se enfeita com nuvens. Em outros, fica mais "clean". À noite, usa estrelas. Mas ó, nenhum céu é igual ao outro. Pelo menos penso que não.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu achava que era azul porque Deus era menino.<br />
- Se Deus existe, ele é criança com canetinha e lápis de cor.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Hmm... (pausa) Tia! Quero brincar como Deus!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em meia hora, criou um mundo. Seu céu - amarelo com bolinhas vermelhas.</div>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-28918344127110848122012-07-18T09:10:00.003-07:002012-07-18T09:10:53.224-07:00A batida do jazzMeu coração tem a batida do jazz: be.bop.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-61725549127793213722012-07-18T09:03:00.002-07:002012-07-18T09:03:33.580-07:00Sob nossas asas, sobre nossas raízes<br />
I<br />
É um momento crucial, o da escolha: raízes ou asas? Todo homem precisa optar, em algum momento da vida: fazer da sua casa, o seu mundo; ou do mundo, a sua casa. Não tem a ver com dinheiro que possui, com as viagens que fez. É uma questão de desprendimento.<br />
<br />
II - Ela<br />
As pessoas-raízes gostam de conforto; prezam os laços. Cultivam os amigos da infância com um preciosismo tremendo. Se apaixonam várias vezes pela mesma pessoa. Descobrem uma novidade na jabuticabeira, que deu fruto. E saem por aí oferecendo jabuticabas a Deus e o mundo.<br />
<br />
Pessoas-raízes são calmas. Gostam de ter controle sobre o que as cerca. Sabem que poderiam ter o mundo inteiro, mas não querem estar em qualquer outro lugar. Aquilo que é seu lhes basta. Quando viajam, são turistas. Gostam de fotografias e souvenirs. É um povo simples, que faz da leveza um dom. Pessoas-raízes parecem ter vocação pra felicidade. Vêem embaladas num sambinha bom, num ritmo de bossa. Cada um dos seus sorrisos parece uma declaração de amor. É impossível não admirar a solidez de seus passos. Amar esse tipo de gente é como deixar que ele(a) cresça em você como planta. Mesmo quando não se espera nada da semente. São delas nossa segurança, nossos risos certos, nosso coração aberto, nossa vontade de ficar. Pessoas-raízes são grandes pra dentro.<br />
<br />
III - Ele<br />
Do outro lado de existir, ter asas é para fortes. Pessoas-asas são impetuosas e destemidas. Não sentem vertigem. Ou sentem, mas se jogam mesmo assim. É uma gente audaciosa, que vive faminta e sedenta. Não pertencem ao chão. É um povo do céu, mas não gostam só de azul. Querem todas as cores, sem distinção ou preconceito. Intensos. São capazes de lhe oferecer um arco-íris. Voam solo, mesmo quando acompanhados. Sabem que ninguém se completa. É preciso somar. São plenos e vorazes.<br />
<br />
Conhecem a natureza da liberdade. Seu voo não cabe numa gaiola. Se ficarem, não é porque precisam. Querem, simplesmente. Há outras possibilidades. Quando encontram alguém que compartilhe sua liberdade, vem a parceria. Não têm nostalgia. Sempre é possível reinventar o tempo. Seu amor não é sentimento. É ação que pode ser projetada em todas as direções. São deles nosso senso de aventura, nossas descobertas mais loucas, nossa nobreza de espírito. Pessoas-asas não têm amarras.<br />
<br />
IV - Aqueles dois<br />
OU: Você decide se é um encontro ou uma história de amor<br />
OU: O dia em que um pássaro se apaixonou por uma flor<br />
OU: Divagações: importa o tempo do pouso?<br />
Foi numa segunda-feira, um dia qualquer, muito pouco romântico. Ela lia sentada num banquinho de praça. Ele passava apressado, um café latte na mão. Quando a viu, desacelerou o passo. Trocaram sorrisos. Ele sentou ao lado dela, displicente [Bossa nova e rock'n'roll]. E resolveu ficar.<br />Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-38484139390812246852012-07-12T08:31:00.001-07:002012-07-12T08:53:57.749-07:00[O que é, o que é?] Não tem rima nem refrão<br />
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Guarda as palavras bonitas</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
que acha por aí:</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
numa rua movimentada,</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
num concerto de rock</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
ou num café.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Já pensou que nenhuma delas</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
sai do mesmo jeito?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Quantas bocas já falaram de beijo,</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
de céu, de chuva, de guarda-sol?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
- esta última, uma de suas preferidas.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Quais suas entonações?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Quais seus contextos?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Foram sussurradas ou gritadas?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Vieram acompanhadas de algum tipo de fé?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Quem sabe de medo, de raiva, de agonia,</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
de tristeza, de felicidade, de solidão,</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
de esperança, de preguiça, de [insira aqui uma emoção].</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Quais suas intenções?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Quais suas entrelinhas?</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Suas trilhas sonoras,</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
seus ritmos,</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
suas respirações!</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Palavra entrecortada. </div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Palavra dita pausadamente.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Palavra apressada.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Palavra sibilada.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Palavra sem fôlego.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Palavra interrompida.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Escolha e você terá uma cena.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
[Única?]</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
Para as pessoas,<br />
para as palavras,<br />
para as situações.</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
A vida é como música</div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
sem refrão.</div>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-74495837481639651782012-07-10T09:06:00.000-07:002012-07-10T13:30:57.435-07:00Na tua pele<br />
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Na tua pele, som de mar. Das cores, ficou o amarelo - a música gasta dos nossos dias. Mas não fala mais de amor, menino, que meus pés andam sem chão. Me fiz vontade de céu. Um azul sem teu riso. Fica uma alegria antiga. Ou uma lembrança perdida numa tarde qualquer, passeando pela cidade. Fica o passado, mas que ousemos viver no presente. Que este - o agora - seja um lugar bonito. Com as marcas que escolhemos, sim. Nossas próprias cicatrizes - coloridas ou não, à mostra ou nem sempre. Para cada cor, uma dor. Que nos reste, enfim, a delicadeza ao olhar para trás, a generosidade para com nossas histórias.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Para certas coisas não há borracha. Escolhemos mantê-las nos pés ou nos braços. Às vezes menos, n'outras mais, mas é sempre uma ousadia. Perdoa, então, se minh'alma chucra não sabe ver beleza. Não quero ser aquela que desdenha, ainda que seja. Aquela que exige uma explicação, porque não se faz nada assim sem propósito. E isso me assusta. Talvez só mesmo os fortes entendam. Não temos a eternidade, nunca tivemos. Onde nos enganaram? Como nos enganamos tanto? Todo romance nasce pra ser o último. E só acontece enquanto estamos distraídos. Distrai-te. Vencemos como em Leminski, embora não. "A cor mais alegre. A cor mais triste [...que vestes]. O dia em que eu te vi. O dia em que me viste".</div>
<br />
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De onde veio essa mania de amar o difícil? Quando o desejo será daquilo que temos nas mãos? Daquilo que podemos ter? No meu céu, imprimi um arco-íris. Quem sabe alguém goste. Quem sabe alguém surja. E mesmo não gostando, mesmo não surgindo - o futuro me sorri, por mais incerto. O futuro que não comporta desenho. O futuro que precisamos escrever sem pressa e sem saudade. Então guarda a cor, guarda a pele, guarda a música, tudo bem. Mas não esquece: estamos além. Pega a vida com as mãos. E põe-te a colorir.</div>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-91718331616725330862012-07-09T07:55:00.004-07:002012-07-09T07:55:45.151-07:00MicrocontoSe conheceram no asilo. Foi amor.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-81890546074864989762012-07-05T07:08:00.000-07:002012-07-05T07:08:38.459-07:00Era pra ser uma declaração<br />
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<span style="font-size: x-small;">Ou: o texto com o qual não ganhei uma viagem a Paris numa promo de dia dos namorados</span></div>
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<br /></div>
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Você é esse que surge na minha frente no meio da quarta-feira. E só. Não quero saber seu nome, seu endereço, seus pingos nos is. Não preciso do seu CPF, das suas credenciais, do seu histórico. Você amou antes e vai amar depois do tempo-espaço dessa tarde. Você não é nem nunca será meu. Falo sem vergonha, e isso não é ruim - acredite! Não quer dizer que não possamos brincar de posse. Você me joga na cama e finge que me toma à força. Eu me equilibro nos saltos e invento que marco sua vida com batom.</div>
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<br /></div>
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E tanto mais, mas não enganamos ninguém. Não somos especiais, não somos únicos. Dizer o contrário é puro charme. Roubaram nossos anos de educação romântica. E agora? Existe a possibilidade de um futuro sem você. Tenho certeza de que ele seria lindo. Não é o fim do mundo se a gente não estiver junto no fim desse texto ou do próximo mês. Por mais que as músicas teimem em dizer o contrário.</div>
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<br /></div>
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Se as geleiras derretem, se as usinas nucleares explodem, se tsunamis ou terremotos destroem cidades e milhares de vidas... O que esperar de um elo tão frágil quanto duas pessoas com mais problemas que soluções? Não me prometa nada. Não me ame pra sempre. O que eu mais gosto é a sua dimensão livre. O fato de ser tão avesso à minha ideia de perfeição. Tão diferente de mim. Você pode ir ou ficar. Mas fica.</div>
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<br /></div>
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Você não é minha metade da laranja, não é a outra fôrma do meu molde, não é perfeito pra mim. Não sei por que, então, surgiu esse "nós". Calhou de ser você. Poderia ser qualquer outro, mas eu lhe achei no meio da vida. E você me deu vontade de dançar.</div>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-58155207097231278772012-06-28T09:18:00.001-07:002012-06-28T09:18:27.044-07:00Licença poéticaRimar amor com dor<br />
é para ama.dores.Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19649660.post-30954895355993372502012-06-25T08:33:00.000-07:002012-06-25T11:13:52.726-07:00Entre goles de vinho<div style="text-align: justify;">
<br />
No alto, num gramado estranho Um vinho. Os carros passando na rua lá embaixo.<br />
<br />
- Eu não sei o que fazer. A vida tem me doído tanto, você nem sabe.<br />
- Já tentou se entregar? Chorar até adormecer, até perder as forças. Esgotar isso, entende? Se não for assim tão fácil, uma hora você percebe que tá exagerando.<br />
- É o conselho mais estranho que alguém já me deu: sofrer. [Ele ri]<br />
- Se eu disser "não fica assim", não vai adiantar, né?<br />
<br />
- Você me conhece tão bem.<br />
- Que engano, isso. Você sempre vai conseguir me surpreender.<br />
<br />
- Eu estava com saudade disso. Beber vinho aqui, vendo os carros passarem lá embaixo... É uma coisa tão nossa.<br />
- Eu lembro! Eu com uns 18, você um pouco mais velho. A gente saía, vinha pra cá, comprava um vinho e sentava nesses banquinhos pra conversar sobre nada e tudo ao mesmo tempo. [Pausa] A gente sempre esquecia o abridor, daí tinha que comprar um novo também. Uma vez surrupiei um do mercado e você quase me entrega à polícia. [Ela olha pra ele em tom de acusação, mas ri]<br />
- Trombadinha...<br />
<br />
(...)<br />
- Você é o meu melhor amigo. Mesmo depois que mudei de endereço, de cidade, de estado. Mesmo se eu mudar de país, certamente vai continuar sendo um dos melhores. É sério.<br />
<br />
- Eu tô tão feliz que você tenha encontrado alguém bacana. A gente saiu um dia antes d'eu viajar, lembra? Você tinha começado a namorar no dia anterior e foi me contar a novidade.<br />
- É... E você desdenhou completamente. "Por quem você está apaixonado dessa vez?".<br />
- Não tenho culpa. Você era como o Joel, d'O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças com aquele lance de se apaixonar por qualquer garota que te desse um pouco de atenção.<br />
<br />
- E quando a gente foi naquele parque fazer artesanato pros nossos respectivos? A minha ex-namorada nunca usou o colar de biscuit.<br />
- Sério? Eu achei maneiro. A caixa que fiz também deve ter ido parar no lixo. O que a modernidade fez com o romantismo?<br />
- Vamos admitir: o problema não é o romantismo. Somos bregas.<br />
<br />
- E você, como tá? Ainda curtindo a "vibe de estar só"?<br />
- Você me conhece. Eu fico bem sozinha. Mas olha só, conheci um cara. Não sei em que ponto estamos. Acho que é um caso de "quase amor".<br />
- Por que o pessimismo?<br />
- Não é pessimismo. Eles estão por toda parte, os quase amores. Eles cruzam com a gente nas esquinas. Eles puxam papo no metrô. Eles te olham demoradamente na fila do banco, justo no dia em que você saiu com o cabelo desgrenhado e sem maquiagem. Te dão um beijo e logo precisam embarcar urgente para Istambul. É tudo um grande "E se...?"<br />
- Eu gosto dessas possibilidades. Você não?<br />
- Até acho bonitinho. Pro cinema ou pra literatura, sabe como é? Pra vida, não tenho muita paciência. Não costumo gostar de nada "quase".<br />
<br />
- É como aqueles romances hercúleos, cheios de sofrimento. Sabe que quando eu era mais nova, queria isso?<br />
- O que?<br />
- Sofrer muito. Eu achava bonito, o sofrimento.<br />
- Que loucura. Eu queria ser astronauta e muito, muito feliz.<br />
<br />
- Ei, no casamento da Ana, foi bom te ter do meu lado pra chorar feito menininha. Odeio esses sentimentalismos públicos, mas com você deu pra relaxar.<br />
- Não vou cair nessa. Na hora, você disse que ficou feliz porque eu estava chorando mais que você.<br />
<br />
- Você teimou de só ter melhor amiga mulher, nunca vi.<br />
- Foi o jeito que encontrei de conhecer a alma feminina. Um cara feio precisa ter os seus artifícios na arte da conquista.<br />
- A gente te ensinou bem, então. Ainda bem.<br />
<br />
[risos]<br />
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[Pausa]<br />
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- Acho que sorrir tem o mesmo efeito.<br />
- Efeito de que?<br />
- Aquele lance de esgotar a dor.<br />
</div>Melina Françahttp://www.blogger.com/profile/15215296697460980552noreply@blogger.com0